O edifício de concreto cinza em uma esquina movimentada de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, ficou com as obras paradas no primeiro semestre deste ano e está com a entrega atrasada. As pichações por todo lado denunciam o abandono recente no Museu do Trabalhador.
Iniciado em 2012, o projeto da Prefeitura de São Bernardo deveria ficar pronto em menos de um ano e custar R$ 18 milhões. O valor atualizado está em R$ 21 milhões, e o trabalho da Construções e Incorporações CEI ainda não terminou.
Conhecido pelas ruas de São Bernardo como
"Museu do Lula", o local foi concebido em uma época de maior popularidade do ex-presidente --quando ele deixou o Palácio do Planalto com mais de 80% de aprovação entre os brasileiros-- para contar a história do movimento sindical do ABC Paulista e das greves no final da década de 1970 e início da de 1980.
A batalha eleitoral em torno do museu e de outras obras paradas ou atrasadas ilustra o momento delicado que o PT vive no ABC Paulista, onde nasceu a sigla 35 anos atrás.
Nestas eleições, os adversários do PT no município elegeram a obra como símbolo máximo do partido e seus pecados recentes. Em clima de cruzada anti-petista, prometem cancelar o museu.
Falam em destinar o edifício a fins diversos. O candidato Orlando Morando (PSDB), por exemplo, afirma que vai instalar no local uma fábrica de cultura. Já Alex Manente (PPS) diz querer dedicar um andar da obra para sediar uma pinacoteca e, no outro, fazer um restaurante Bom Prato, que serve refeições por R$ 1.
Obra do Museu do Trabalhador é alvo de polêmicas na corrida eleitoral em São Bernardo
Ponto de honra para o PT local, onde vive o ex-presidente, o prefeito petista Luiz Marinho promete a conclusão das obras até o final do ano. O pequeno número de operários e o ritmo dos trabalhos observados em uma tarde de setembro não inspiram confiança no prazo, adiado já várias vezes.
Além do museu, outras obras inacabadas ganharam destaque na campanha eleitoral, como corredores de ônibus e um piscinão para drenagem de chuvas próximo à prefeitura, que afirma ter ficado sem repasse de recursos do governo federal para justificar a demora.
Com o desgaste de lideranças históricas, envolvidas em denúncias na Operação Lava Jato, e com a consolidação do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, os petistas do ABC lutam contra a desconfiança dos eleitores e partem para as eleições municipais deste ano em clima de sobrevivência e tudo ou nada.
Apostas em todas as cidades
O PT lançou candidatos às prefeituras das sete cidades do Grande ABC. Tenta manter os governos municipais de São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá. Tenta também recuperar Diadema, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires.
A única cidade que nunca foi governada pelo PT no ABC é São Caetano do Sul, onde a sigla conta com um candidato cabeça de chapa sem chances de vitória --a intenção de voto do petista Marcio Della Bella estava na casa do 1%, em penúltimo lugar dentre os oito candidatos, de acordo com levantamento do Ibope no final de setembro.
"É preciso ganhar aqui para extinguir, de uma vez por todas, essa praga que é o PT e que arruinou a vida dos trabalhadores", dá o tom da campanha em São Bernardo o ex-prefeito três vezes e ex-petista Maurício Soares, que abandou a sigla pela segunda vez, entrou para o PHS e nestas eleições está apoiando o candidato do PSDB, Orlando Morando (PSDB).
Carlos Grana (PT) durante ato de campanha em Santo André
Em Santo André, a situação do PT é melhor, mas o prefeito Carlos Grana também enfrenta uma campanha de reeleição dura contra seus principais adversários, o ex-prefeito Aidan Ravin, do PSB, e Paulinho Serra, do PSDB.
Grana não possui vaga garantida no segundo turno, indicam sondagens feitas a pedido de jornais locais no início da campanha, em agosto.
Na contramão, o candidato petista em Rio Grande da Serra, Claudinho da Geladeira, diz que o partido não é problema nas eleições, e sim solução. "
Eu não vou ter dificuldade nenhuma em defender o PT, o Lula e a presidente Dilma", afirma.
"Nunca antes na história deste município houve tanto investimento e tantas verbas aqui como no governo dos dois, vamos ganhar a eleição nadando de braçada", diz confiante o candidato. A falta de pesquisas de opinião sobre as intenções de voto no município tornam o resultado do pleito uma incógnita.
Manoel Eduardo Marinho, o Maninho, candidato do PT a prefeito de Diadema
A recuperação da prefeitura de Diadema, perdida na eleição de 2012 para Lauro Michels, do PV, é vista entre petistas como emblemática para a sobrevivência do partido na região. Foi a primeira cidade governada pelo PT e onde a sigla já mandou por seis mandatos desde sua criação.
A missão cabe ao vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho. Ele concorre com Michels, que tem o apoio do ex-prefeito Zé Augusto, que já foi do PT e hoje está no PSDB. Não há pesquisa recente na cidade.
Apenas em Diadema e Ribeirão Pires os petistas vão para esta eleição em uma chapa puro-sangue. No restante das cidades, as coligações incluem alianças com partidos que apoiaram o impeachment, como PR, PP e Solidariedade.